Machado de Assis: O Gênio Imortal da Literatura Brasileira

Machado de Assis é uma figura central na literatura brasileira, considerado o mais importante escritor do Brasil e um dos maiores nomes da literatura universal.

Com uma obra que abrange romances, contos, crônicas e poesias, ele destacou-se por seu olhar crítico e sagaz sobre a sociedade, a psicologia humana e as normas sociais de sua época.

No entanto, suas reflexões são universais e atemporais, encantando leitores e inspirando autores até os dias atuais.

Neste artigo, exploraremos a vida de Machado de Assis, suas principais obras literárias e o impacto duradouro de sua escrita.

Machado de Assis é uma figura central na literatura brasileira, considerado o mais importante escritor do Brasil e um dos maiores nomes da literatura universal.
Foto: Acervo Instituto Moreira Salles

Quem Foi Machado de Assis?

Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em 1839, no Morro do Livramento, uma região humilde do Rio de Janeiro.

Filho de um operário mulato e uma lavadeira portuguesa, ele enfrentou dificuldades financeiras e sociais desde a infância.

Contudo, desde jovem, revelou uma notável habilidade para aprender e uma sede imensa por conhecimento, especialmente literário.

Sem ter concluído uma educação formal, Machado foi autodidata, aprendendo sozinho francês, inglês e latim — uma realização extraordinária para alguém com tão poucas oportunidades na época.

A Influência do Contexto Social e Histórico

O Brasil do século XIX era um país em transição, onde a escravidão ainda vigorava e as desigualdades sociais eram gritantes.

Machado, que nasceu em um contexto de exclusão, tornou-se um observador atento e crítico da sociedade brasileira.

Esse ambiente influenciou suas narrativas, repletas de personagens complexos que refletem as tensões e os valores da época.

Sua crítica à sociedade patriarcal, elitista e muitas vezes hipócrita transparece em quase toda sua produção.

Principais Obras de Machado de Assis

Primeira Fase Literária: O Romantismo e Suas Influências

A influência do Romantismo marca a primeira fase de Machado.

Ele explorava a paixão, o destino e as relações pessoais, mas com um toque crítico que já sugeria sua transição para uma fase mais madura e realista.

Suas primeiras obras oferecem uma visão intrigante da sociedade e da psicologia humana, ampliada profundamente em seus romances posteriores.

Ressurreição (1872): O Início de uma Jornada Literária

O primeiro romance de Machado de Assis, Ressurreição, explora o amor e as dúvidas emocionais por meio do protagonista, Dr. Félix, um homem cético quanto ao amor, que se envolve em um dilema afetivo com Lívia.

Machado começa a construir aqui suas análises psicológicas, apresentando um personagem cujas inseguranças e incertezas são o reflexo das próprias contradições humanas.

A Mão e a Luva (1874): Crítica Social e Determinação Feminina

Em A Mão e a Luva, Machado introduz Guiomar, uma mulher forte e determinada, que desafia as convenções sociais e faz escolhas racionais em vez de emocionais.

O autor explora o papel das mulheres em uma sociedade patriarcal e conservadora, onde elas frequentemente são vistas como meros adornos.

Guiomar, contudo, assume o controle de sua vida e desafia essas normas, simbolizando a busca por autonomia e reconhecimento.

Helena (1876): Amor e Diferenças de Classe

Helena é uma obra que trata do amor proibido entre Helena, uma jovem de origem humilde, e Estácio, herdeiro de uma rica família.

Aqui, Machado aborda temas como a diferença de classes e o preconceito social, questionando as fronteiras sociais que muitas vezes dividem os seres humanos.

Com sutileza, o autor desafia a ideia de que a nobreza de caráter é uma exclusividade das elites.

Segunda Fase Literária: A Consolidação do Realismo Psicológico

Na década de 1880, Machado de Assis adentra plenamente o Realismo, sendo um dos primeiros autores brasileiros a explorar as profundezas da mente humana e a complexidade das relações sociais.

Ele cria uma literatura que ultrapassa as convenções narrativas da época e mergulha na análise psicológica de seus personagens.

Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881): A Revolução da Narrativa

Memórias Póstumas de Brás Cubas é considerado um marco da literatura brasileira e mundial.

Narrado por um “defunto-autor”, o livro apresenta a vida de Brás Cubas de maneira cínica e repleta de humor negro.

Machado quebra a quarta parede e interage com o leitor, utilizando um estilo inovador e irreverente.

A obra explora a vaidade, o egoísmo e a superficialidade humana, mostrando como as ambições mundanas muitas vezes são fúteis e vazias.

O Uso da Ironia e do Humor Negro

A ironia em Memórias Póstumas é uma ferramenta que Machado utiliza para expor a hipocrisia da sociedade.

Brás Cubas é um personagem que não hesita em revelar suas falhas, o que faz com que o leitor reflita sobre suas próprias atitudes.

A obra aborda, de forma crítica, temas como o materialismo e o narcisismo, revelando um Machado de Assis que estava à frente de seu tempo.

Quincas Borba (1891): A Filosofia do Humanitismo

Neste romance, Machado de Assis dá continuidade à história de Quincas Borba, um personagem de Memórias Póstumas.

A narrativa gira em torno de Rubião, um homem ingênuo que herda a filosofia do “Humanitismo” de seu amigo Quincas.

Ao longo da trama, Rubião é explorado por aqueles à sua volta, o que permite ao autor examinar o impacto da ambição e do poder.

O Humanitismo é uma filosofia fictícia que ironiza o positivismo e outras correntes filosóficas da época, mostrando o ceticismo de Machado em relação às grandes teorias que prometiam resolver os problemas da humanidade.

Dom Casmurro (1899): Ciúme e Ambiguidade

Dom Casmurro é, sem dúvida, a obra mais famosa de Machado de Assis.

A história do relacionamento entre Bentinho e Capitu é contada sob o olhar ciumento e possessivo do narrador, Bentinho.

Um dos grandes mistérios da literatura é se Capitu realmente traiu ou não Bentinho com seu melhor amigo, Escobar.

Essa ambiguidade torna Dom Casmurro uma análise profunda do ciúme e da subjetividade, em que o leitor é constantemente desafiado a questionar a veracidade dos fatos.

A Construção da Ambiguidade

Machado de Assis emprega diversas técnicas para construir a ambiguidade em Dom Casmurro, incluindo descrições sutis e jogos de palavras que sugerem, mas nunca confirmam, uma possível traição.

A personagem Capitu é descrita como “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”, expressão que sintetiza a dualidade e o mistério que rodeiam sua personalidade.

A falta de certeza sobre seus atos faz de Dom Casmurro uma obra-prima da literatura psicológica.

Outras Obras de Machado: Contos, Crônicas e Poesias

Papéis Avulsos (1882): Sátira e Crítica Social

Papéis Avulsos é uma coleção de contos em que Machado de Assis satiriza as instituições sociais e expõe as contradições humanas.

O conto O Alienista, por exemplo, é uma crítica à ciência e à racionalidade exacerbada, explorando a linha tênue entre sanidade e loucura.

Este conto se tornou um dos mais conhecidos do autor e é considerado uma alegoria das falhas da racionalidade humana.

Várias Histórias (1896): A Psicologia Humana em Histórias Curtas

Esta coletânea inclui contos icônicos como A Cartomante e Missa do Galo, que abordam temas como o destino, a traição e os conflitos morais.

Em cada história, Machado explora as profundezas do comportamento humano, revelando as motivações, medos e desejos ocultos dos personagens.

Mesmo em contos curtos, ele consegue transmitir uma complexidade de emoções e pensamentos.

Crônicas e Poesias: Uma Visão do Cotidiano Brasileiro

Machado de Assis também contribuiu significativamente com crônicas que descrevem o dia a dia da sociedade carioca de sua época.

Nessas crônicas, ele abordava temas como política, cultura e questões sociais, sempre com um olhar perspicaz e irônico.

Embora suas poesias sejam menos conhecidas, elas revelam um lado mais sensível e introspectivo do autor, que raramente se mostrava em suas narrativas.

O Legado de Machado de Assis

Sua Influência na Literatura Brasileira

Machado de Assis é um modelo de inovação literária e de pensamento crítico para escritores de diversas gerações.

Sua habilidade de capturar a complexidade humana e suas observações sutis sobre a sociedade tornam sua obra única.

Ele inaugurou o realismo psicológico no Brasil e influenciou autores como Guimarães Rosa e Clarice Lispector.

Machado de Assis na Cultura Popular

Além da literatura, sua obra inspirou adaptações para o cinema, teatro e televisão.

Livros como Dom Casmurro foram adaptados em diversas produções, reforçando a relevância de sua obra para as gerações contemporâneas.

Conclusão

A obra de Machado de Assis é um tesouro da literatura mundial, uma reflexão profunda sobre o ser humano e suas contradições.

Sua capacidade de explorar o interior dos personagens, seu humor refinado e sua crítica social permanecerão eternamente como parte fundamental da cultura brasileira e da literatura universal.


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